Empresas e coletivos pegam carona na reurbanização da região 

Em 2002, ninguém poderia imaginar que a Zona Portuária do Rio se tornaria a queridinha da cidade. As pessoas só iam até lá para tirar passaporte e voltavam. Era tão deserto que nem ladrão havia.

Quinze anos depois, a região ganhou muitos entusiastas e, com eles, um perfil de negócio que tem prosperado de maneira especial por ali: o ramo da economia criativa.

A área, que já abrigava iniciativas como a ocupação da Fábrica da Bhering, celeiro de artistas e designers, vive um boom de espaços de trabalho coletivo e núcleos de criação que fogem aos modelos tradicionais, desde que as obras de reurbanização começaram a ganhar corpo. Recentemente, um nome de peso engrossou ainda mais a lista: o YouTube anunciou a instalação de uma unidade do YouTube Spaces, um espaço de criação e cursos voltados à exploração das possibilidades audiovisuais da plataforma, na região. Será a segunda unidade no Brasil (a primeira fica em São Paulo) e a inauguração deve ocorrer ainda este ano.

COMUNIDADE EMPREENDEDORA

O Rua City Lab, criado em agosto do ano passado, assiste a essa agitação com gosto. O espaço ocupa dois galpões cedidos por construtoras que queriam fomentar essa cena na área. A estrutura tem auditório, salas de aula, escritórios, oficina, loja, galeria de arte e espaço de coworking. Ali diversos negócios puderam se instalar, encontrando condições propícias ao desenvolvimento. A experiência deu certo e, em breve, a iniciativa ganhará um novo nome e objetivos mais específicos, em um projeto focado no empreendedorismo. A ideia é criar uma comunidade empreendedora a partir do espaço, para que faça parte de uma rede de negócios com viés social e que estejam olhando para o território e o espaço público.

Outra empresa que se mudou para a Zona Portuária foi a SuperUber, especializada em produzir experiências que unem arte, tecnologia, arquitetura e design. O negócio funcionava no Jardim Botânico e foi para um prédio na Gamboa em 2011, em busca de um espaço maior e com preço mais em conta.

Com o fim das intervenções e o estabelecimento de uma boa rede de transportes, a situação melhorou. Mas é preciso ir além. Os empreendimentos mais novos são muito baseados no setor comercial. Isso faz com que a região fique morta à noite. É importante agora criar um ecossistema que atraia moradias. Assim poderá haver uma rede de lojas e cafés, por exemplo.

Para a professora do MBA de Marketing da Escola de Negócios da PUC-Rio, Alessandra Baiocchi, ainda não é possível dizer que esta cena de indústria criativa está consolidada. Mas, na opinião dela, a cidade parece caminhar para isso, o que é muito bom.

— É uma vocação econômica. Estamos falando de um setor que tem como origem a criatividade e o talento e explora seu potencial de riqueza por meio da propriedade intelectual — observa ela, referindo-se a áreas como design, moda, artesanato, gastronomia, patrimônio, arte, música e arquitetura.

Na visão de Alessandra, cuidar para que a região do Porto continue a atrair esses negócios é algo estratégico.

— A economia é cíclica e agora é hora de se preparar para uma retomada no país. Se este potencial está se desenhando na região, é importante que a área esteja bem preparada para este momento — comenta ela.

O responsável pelo setor de Desenvolvimento Econômico e Social da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto, Rilden Albuquerque, afirma que, quando começou a ocupação, a administração se preocupou em atrair esses negócios para lá, já que combinam com o tom pensado para o projeto.

— A gente ofereceu auxílio para que se fixassem ali e conseguissem expandir seus negócios. Intermediamos eventuais conflitos e fizemos a interface com empresas interessadas em colaborar. Hoje já estão tão estabelecidos que nem precisamos fazer tantas intervenções — conta ele.

UNIDOS PELA CRIATIVIDADE

Um dos sinais desse fortalecimento é a criação do Distrito Criativo do Porto, que reúne 30 empreendedores da região. O grupo funciona como uma espécie de embaixada, tentando trazer novas empresas e viabilizando novos negócios.

Há ainda o Coletivo do Porto, um pool de quatro empresas que dividem espaço, ideias e experiências para desenvolver soluções em comunicação, marketing, desenvolvimento digital e eventos. A união dessas iniciativas na região não poderia ser mais produtiva, pois além de ser um jeito ótimo de se trabalhar, as experiências se fortalecem e clientes podem ser indicados de uns para os outros. Com tantos parceiros, é possível oferecer serviços que somente uma grande empresa ofereceria.

Fonte: Site O Globo